Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

LAURENTINO BEZERRA
( BRASIL – RIO GRANDE DO NORTE ) 

 

BEZERRA, Laurentino.  Lira do meu solo. (VERSOS). “Palavras
amigas de Antídio de Azevedo.  Natal, Rio Grande do Norte: 1962.        179 p.   15 x 21 cm.  No. 10 996
Exemplar na biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo
(livreiro) Brito.

 

“Uma das facetas mais impressionantes da poesia do aedo seridoense, é o modo como ele próprio procura depreciar a sua
inspiração e a sua verve poética.
Nunca consentiu que se publicassem os seus versos. Por isso,
quando, certa vez, um seu colega íntimo levou, às escondidas,
alguns dos seus cadernos, divulgando, em um jornal, uma das
suas produções, ele me mandou, incontinenti, o soneto “Recado
do Réu”, que foi retribuído com outro, no mesmo tom — “Defesa
do Acusado” — dando lugar à crônica de um escritor, na imprensa
paraibana. Essa ocorrência, de certo modo, foi favorável ao poeta,
pois, de então para cá, a sua poesia, embora contra sua vontade,
tem aparecido e o modo como tem sido recebida, parece, afastou
das sua mente os receios da crítica.
Não queremos dizer que a poesia de Laurentino Bezerra não
tenha defeitos. Não, mas o certo é que mais não se pode exigir
daquele que, entregue aos afazeres do campo, viveu longe do
contato com as letras e do convívio dos mestres.”
ANTÍDIO DE AZEVEDO         Natal, X – 1962.
 


Parelhas vista da Serra do Boqueirão.
Foto:  Wikipedia
 

 

 cidade fotografada da Serra das Queimadas
durante o período seco, quando a caatinga 
perde suas folhas.
 

 

                                         Barragem do Boqueirão.

 

 

POEMA A PARELHAS
(No seu centenário)

Hoje notei que o sol nasceu dourado,
Mais claro, mais ardente!

Não foi somente
Como um prenúncio
De que a seca se fora e o inverno entrara:
Foi um anúncio
Como do passaredo o bando alado,
Na época promissora da seara,
De que Parelhas, nossa mãe querida,
Pois, como boa mãe, ela nos trata,
Completa, nesta data,
Um século de vida.

Esta região era um caos deserto,
À semelhança do Atácama ardente
E quase como o Saara.
Afora o potiguar, altivo e esperto,
Nunca o pisara
O pé da humana gente.

Um dia
Enfeitiçados, presumivelmente,
Pelo clargor da música dolente
Do Boqueirão que corta a serrania,
Cosme Luiz e Bastião Chocalho,
Descansaram, fatigados da viagem
Longa, através das matas colossais,
Ao pé do serralho,
Donde sair não querem nunca mais!

Como levada pelo vento, além
Chega a notícia, em rápidos instantes,
Da beleza da terra!...
Então, lhe aflui ao seio mais alguém,
Em pouco tempo, em derredor da serra,
Havia uma centena de habitantes.

Ferida a terra pela enxada bronca,
Fertilizando o Seridó, que ronca
Como um milhão de tigres na caverna,
Nela se semeia logo, em profusão,
Que germina pungente e eterna.

Eis, então, quando
Irrompe, inesperado, amedrontando
Os poucos habitantes do lugar,
Um surto de horrorosa epidemia,
Vitimando, em média, três por dia,
Enchendo os sãos de intérmino pesar.
Então,
Sebastião,
Tomando de uma fé com tal fervor
Que não há força nem poder que o dome,
Faz uma prece ao Santo do seu nome,
Pedindo, todo amor,
Que ponha um dique
Á marcha ascensional do grande mal,
Contanto que do horror isenta fique
A varonil população local.

Foi isso no ando de cinquenta e seis.
Cessou a peste,
Embora ainda, outra vez,
Surgisse noutras plagas do nordeste,

E como em paga de tão grande bem,
Sebastião Chocalho,
Quase sem querer nada de ninguém,
Empreende e leva a efeito este trabalho:
Uma capela
Em honra ao grande e milagroso Santo.
E ao lado dela,


Num suave e bucólico recanto,
Construiu-se uma casinha tosca
De taipa e telhas.

E essa casinha, tão modesta e fosca,
Foi, senhores, a origem de Parelhas.

Parelhas, janeiro de 1956.

 

MEDITANDO

(Ao velho amigo António Bezerra Fernandes)

Antes que a morte fria me carregue
Em versos vou dizer o que se segue:

Liguei meu pensamento a ondas largas
E procurei, por dentro das descargas,
O ecoar dos tempos bons que já se foram...
 


Rasgam mortalhas corujões que agouram
Num forte chocalhar aos meus ouvidos,
Sons de terror em duplos sustenidos!...

Depois fugiu o meu pavor medonho,
Dormi, sonhei e, no meu róseo sonho,
Transfigurei-me em jovem paladino
E, relembrando o tempo de menino,
Dos meus olhos jorraram gotas de água!...

Então, sinto o lenir da minha mágoa,
No sussurro das asas da lembrança
Do meu passado tempo de criança,
Suavizando a dor que minha alma invade,
Nos acenos do lenço da saudade!...


O POETA

O poeta, se a lira não dá sorte,
Aplica em cada verso a cor mais triste
E pinta um sofrimento atroz, tão forte,
Que coitado, não sei como resiste!

Descreve o desespero, a dor, a morte,
Em paralelo à vida que lhe assiste.
Em nesta confusão, perdendo o norte,
Confessa ignorar se o mundo existe.

É de prever que, no bordão da lira,
Ele maneja tão-somente o verso,
Sem palmilhar o campo da mentira.

Mas, faz isso com tanta habilidade,
Que, no roupão do choro submerso,
Mente e não tisna a tese da verdade. 

Natal, de 1982.



*
VEJA E LEIA outros poetas do RIO GRANDE DO NORTE em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_grande_norte/rio_grande_norte.html

Página publicada em outubro de 2024


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar